
Chico Saraiva é o proprietário do Palmal Riacho Verde, situado em Quixadá

O cultivo do vegetal é uma forma de garantir a alimentação dos animais principalmente durante o período de estiagem, tendo em vista que a palma não necessita de grandes quantidades de água para se desenvolver
Com as poucas chuvas na região, a palma acaba sendo uma alternativa para a sobrevivência dos animas no campo
Quixadá Geralmente, quando os amigos se reúnem em um restaurante ou no barzinho preferido, passam a discutir sobre futebol, política, religião e até sobre a vida alheia. Jogam muita conversa fora. Mas, numa lanchonete no Centro de Quixadá, essa estória é muito diferente.
O proprietário, João Antônio de Lima, costuma convocar quatro amigos para tratarem de um problema muito sério, a questão da sobrevivência e convivência na região onde moram, o semiárido cearense. Nessas horas, a palma forrageira, uma espécie vegetal utilizado na alimentação de animais, acaba se tornando o assunto predileto do grupo. Há mais de cinco anos abordam o tema e realizam experiências.
Agora, quando o quadro de estiagem na região começa a se consolidar, e com ele ainda mais a necessidade de encontrar alternativas para a subsistência no campo, principalmente dos animais, o cactáceo exótico originário do México se torna assunto obrigatório para João Antônio e os amigos Edmar Machado, Francisco Hélio Duarte, o "Bebel", Marcelo Roberto Paracampos e Francisco José Saraiva Nobre, mais conhecido como "Chico Saraiva". Eles têm respostas para tudo sobre o vegetal. Apostam no experimento realizado na fazenda de Chico Saraiva como uma das opções viáveis de convivência na seca.
Embora divida parte do seu tempo com a comercialização de livros, Saraiva utiliza uma técnica ainda pouco difundida por quem se dedica à agropecuária na região, o plantio adensado de palmas. Para quem herda o ofício dos antecedentes familiares, não arrisca experimentar outras alternativas. Para os tradicionalistas, não há como um vegetal crescer sem água por perto. Contudo, há cerca de cinco anos, Chico Saraiva passou a cultivar as palmas condensadas.
O Palmal Riacho Verde, propriedade de Chico Saraiva, fica situado no entorno do Açude do Cedro, mas, nesta época do ano, sem as chuvas, fica ainda mais distante do espelho d´água do reservatório público construído e administrado pelo Departamento Nacional de Obras Contra a Seca (Dnocs).
Água praticamente não tem. É assim o ano todo. Mesmo chovendo apenas 200mm, bem abaixo da média pluviométrica histórica na região, de 700 a 800mm, é suficiente para assegurar a sobrevivência da planta e complementar a ração do seu rebanho de 200 ovinos. Ele consegue produzir 400 toneladas de palma gigante por hectare.
O rancho de Saraiva é considerado modelo na região em matéria de forragem alternativa. Além de ler muito sobre o assunto, ele contou com o auxílio do Serviço Brasileiro de Apoio à Micro e Pequena Empresa (Sebrae). O escritório local articulou e facilitou a assessoria de um técnico especializado para ele e os amigos. As dúvidas foram desaparecendo e as palmas crescendo. Hoje, apesar da preocupação com a estiagem, o insumo energético para os animais está garantido. Se tivesse plantado milho, alimento natural mais utilizado pelos criadores da região, não teria um grão para dar aos animais.
Ele e os amigos sabem que a massa verde da palma não deve ser a única fonte de alimentação dos animais, mas está aliviando o trato na pecuária. Agora, Saraiva já pensa noutros derivados da planta. Quem sabe num futuro próximo, quando se reunirem na lanchonete do amigo João Antônio, encontrarão sucos e tortas de palmas no cardápio. O criador está à procura de algumas receitas.
Projetos
João Antônio e Edmar Machado explicam que, neste ano, o quinteto pretendia implantar um canteiro especial, uma mandala experimental, numa área da Associação Cearense de Caprinos e Ovinos (Acocece). A Associação está situada no Km 03 da Estrada do Cedro, como é conhecida a via de acesso ao primeiro açude público construído no Brasil. Mas a chuva não veio e o projeto foi adiado.
Quem sabe no próximo ano, além de algumas raquetes de palma, poderão plantar mandioca, cunhã e feijão gandu, espécies consideradas por eles ideais para cultivo e utilização em regiões onde as chuvas são escassas. Fazem tudo isso pela amizade e convivência com a seca. Tem sido assim nos últimos anos.
Essa história começou quando João Antônio, Edmar e Bebel aceitaram acordo de demissão voluntária do Banco do Brasil. Eles trabalhavam na agência de Quixadá. Enquanto João Antônio resolveu partir para o ramo do comércio, os outros dois amigos resolveram apostar na pecuária. Não demorou muito, Saraiva e Marcelo Paracampos se uniram a eles.
Vez por outra, acabam discutindo nos encontros, mas, além da amizade, a palma forrageira acaba as desavenças, pelo menos até surgir uma nova discussão sobre a Opuntia ficus, nome científico da "palma da amizade", como está conhecida por conta da boa relação do grupo.
Mais informações
Amigos da Palma Forrageira
(Lanchonete do João Antônio)
Rua José de Queiroz Pessoa, nº1643, Centro de Quixadá
Telefone: (88) 9609.9600
Planta é ideal para alimentar animais
Quando João Antônio, Edmar Machado, Bebel, Marcelo Paracampos e Chico Saraiva procuraram o Sebrae, o técnico do escritório local, Raimundo Lima Filho, logo associou o interesse, as ideias e o entusiasmo deles pela exploração da palma forrageira ao G5, como ficou conhecida a união dos cinco países em desenvolvimento na atualidade, Brasil, México, Índia, África do Sul e China. Queriam difundir ainda mais o cultivo da palma forrageira.
Quem passou a auxiliar o G5 de Quixadá foi o engenheiro agrônomo Hider Fonteles. Ele também ficou impressionado com a determinação do grupo. A assistência começou há dois anos. Segundo Fonteles, os resultados demoraram a aparecer, mas quem tinha as maiores barreiras está se destacando. Ele se refere a Chico Saraiva, que atingiu a excelência em matéria de produção, organização e processamento da palma forrageira para o consumo animal.
O segredo, destaca Fonteles, está no conhecimento técnico e utilização correta da planta. Em qualquer parte do mundo, o êxito da pecuária passa por uma agricultura forte e técnica. Conforme o técnico, após o declínio do cultivo do algodão arbóreo, a pecuária sofreu grande perda de produtividade, em razão da restrição da oferta forrageira no segundo semestre. Desde então, as propriedades rurais do semiárido não encontraram cultura capaz de oferecer volumoso de qualidade durante a estação seca.
Assim, calculam sua taxa de lotação animal em relação única à área e a produtividade do seu respectivo baixio, visto ser a área mais fértil e mais úmida da propriedade, onde a produção das forrageiras tende a ser perenes.
Todavia, esses espaços apresentam-se invariavelmente em um percentual mínimo de 5% em relação a área total. Com este arranjo, as propriedades tiveram grande redução em sua capacidade de alimentar os rebanhos, e o lucro também caiu.
Segundo Fonteles, o cultivo de palma forrageira pode reverter este processo de declínio, pois possibilita a produção perene de uma forrageira extremamente produtiva e de relevante produção energética em grande parte dos campos de qualquer fazenda do semiárido, prescindindo inclusive de irrigação. Dessa forma, a taxa de lotação das propriedades pode ser elevada e igualada a qualquer outra taxa de lotação oferecida pelas melhores forrageiras mundo afora. A palma tem atributos extremamente apropriados para suprir a pecuária do semiárido, pois é xerófila, perene, tem 76% da energia do grão de milho e tolera todos os tipos de solo. Só não admite fogo e encharcamento.
Existem várias plantas da família das cactáceas e das crassuláceas utilizadas nas regiões áridas e semiáridas do planeta para suporte forrageiro.
No Nordeste brasileiro, a palma gigante oferece vantagens aos pecuaristas, produzindo forragem de alta qualidade, sem irrigação e grande volume.
Cultivada em regime adensado (0,10 X 1,8 m), oferece uma produtividade de mais de 400 toneladas ao ano de massa verde, com 90% de umidade, ou seja, 40 toneladas de matéria seca por hectare ao ano.
"Não é sabido da existência de outra cultura com tal desempenho, sobretudo na Caatinga. Essa tecnologia nos dá a redenção em relação à escassez de pastagem na estação seca do ano, e mesmo nas secas recorrentes", explica Fonteles.
Mais informações
Sebrae - Escritório Quixadá
Rua José Jucá, 547, Centro
Telefone: (88) 3412.0991
Plantagri
Telefone: (85) 9989.2909
Postada:Gomes Silveira
Fonte:Diário do Nordeste