"Ivo, até bem pouco, era, dentre os Ferreira Gomes, o interlocutor preferencial dos petistas. E vice-versa"
Aos poucos, o neófito Elmano Freitas vai tomando as rédeas, pelo PT, do processo eleitoral em Fortaleza. O lance mais importante dos últimos dias de movimentação política foi a série de encontros dele com os irmãos Ciro e Ivo Ferreira Gomes, críticos ferrenhos da gestão Luizianne Lins dentro do PSB e entusiastas da ideia de rompimento de uma aliança partidária que vem desde 2004.
Sua agenda da semana abriu espaço, também, para uma reunião com o secretário Arialdo Pinho. Vazou pouco dos encontros, mas o suficiente para dar a entender que o diálogo não está interrompido e chances de manter o acordo existem. Porém, muito ainda precisará acontecer para que se chegue à conclusão de que cabem os dois partidos no mesmo palanque em Fortaleza, já na campanha de primeiro turno. Avalia-se, no PT, que Ivo age de maneira mais correta nas críticas à gestão ao apontar as razões da frustração que o tem feito engrossar o discurso do rompimento.
Afinal, até bem pouco tempo, ele era entre os irmãos Ferreira Gomes o interlocutor preferencial dos petistas. E vice versa. Ivo teria pedido pouco, apenas que o debate sobre os problemas da gestão não fosse interditado, e Elmano sinalizou positivamente, inclusive adiantando que é sua intenção tratar de maneira aberta os pontos negativos que os últimos sete anos e meio de PT no poder não conseguiram responder satisfatoriamente.
Já quanto a Ciro o quadro muda de conversa. A relação dele com o PT e os petistas sempre foi na base de tapas e beijos, mais tapas do que beijos, inclusive. Sua tese, reafirmada durante a conversa com Elmano Freitas, é de que os dois partidos podem se reencontrar mais adiante, no segundo turno, o que garantiria a manutenção da aliança na próxima gestão, na eventualidade de uma vitória.
O ex-governador, ex-ministro e ex-deputado volta com os mesmos argumentos que utilizou em 2010 nas conversas com Lula para tentar convencê-lo de que valia a pena PT e PSB saírem com candidatos próprios à presidência da República no primeiro turno. Dentro do entendimento de que quem fosse à etapa seguinte levaria o apoio do outro. Ou, da outra. Ciro não convenceu Lula lá atrás, nem convencerá os petistas agora, especialmente porque seu discurso contra a gestão Luizianne é muito violento para criar a perspectiva de um reencontro mais adiante.
Cid Gomes, enquanto isso, dá liberdade aos irmãos. Sua hora de intervir aproxima-se à medida em que junho vai chegando, mas os cálculos políticos que faz indicam que ela ainda não chegou. Acredita-se que a esperada conversa que ele está para manter com a prefeita Luizianne Lins, na linha “de presidente para presidente”, não aconteça antes de 3 de junho próximo, data em que o PT realiza a reunião na qual definirá o nome que deve escolher na convenção como o candidato de Fortaleza. Resta saber, a depender do quadro, se tal encontro ainda terá algum sentido.
A LÍNGUA AFIADA E A VÍTIMA DE SEMPRE
Por falar em Ciro Gomes, sua metralhadora giratória verbal continua atrativa à mídia nacional. Amanhã à noite, a partir de 22 horas, ele participa do programa “Brasil em discussão”, na Record News, e dispara pra todo lado. Ataca, inclusive, o presidente do Grupo Abril, Roberto Civita, a quem acusa de “dar guarida para a pior canalhice que há no País”, referindo-se às relações promíscuas entre jornalistas e fontes em Brasília e ao fato de o episódio Cachoeira revelar o envolvimento do editor da Veja, Policarpo Júnior. Ciro aproveita uma boa parte do programa, já gravado, para praticar um dos seus passatempos prediletos: falar mal de José Serra. Sem pena.
O CIRCO DOS HORRORES POLÍTICOS
De novo, o ambiente contaminado da política nacional ameaça inviabilizar que o Congresso cumpra seu papel na investigação de um escândalo de proporções ainda não suficientemente esclarecidas. Cada sessão da CPMI do Cachoeira é um espetáculo de discussão vazia, onde não se consegue saber qual a real intenção de um parlamentar quando pede a palavra e faz uso do microfone. Além dos cochilos de um e outro, das mensagens a aliados que soam como um insulto ao País (vide o triste flagrante da mensagem de texto tranquilizadora do deputado petista Cândido Vacarezza - foto - ao governador peemedebista Sérgio Cabral com coisas do tipo “você é nosso e nós somos teu”) e de uma clara intenção de muitos de tirar proveito midiático da superexposição que o evento político proporciona.
Fragiliza o Congresso a repetição de fracassos com as tentativas de buscar verdades através de CPIs. Os próprios parlamentares deveriam ser os primeiros interessados em fazer o melhor uso do instrumento, garantindo-lhe eficácia e seriedade. O caso que envolve o bicheiro Carlinhos Cachoeira e sua rede de relações escusas exige uma apuração qualificada por ser mais uma situação denunciadora da fragilidade dos nossos sistemas de controle da destinação dos recursos públicos no País. Caberia um olhar mais sério de senadores e deputados, algo que dificilmente teremos pelo que têm indicado as primeiras sessões realizadas.
Postada:Gomes Silveira
Fonte:O Povo