
Tropa do Exército permanece em total prontidão na sede da Delegacia Geral, Centro

Os ânimos ficaram exaltados no momento em que o caminhão de transporte de tropas apareceu na praça onde os grevistas estão acampados

O advogado Leandro Vasques, assessor jurídico do Sindicato dos Policiais Civis, explicou que a entidade quer a abertura de diálogo com o Governo do Estado para que suas reivindicações sejam atendidas

Policiais militares do BpChoque chegaram à sede do SVO prontos para impedir que os grevistas ocupassem o prédio, mas o incidente não ocorreu
Tios-avós da magistrada teriam sido vítima até de torturas, após ela determinar que PMs desocupassem quartel
A Associação Cearense dos Magistrados (ACM) distribuiu nota pública à Imprensa, no fim da tarde de ontem, prestando solidariedade à desembargadora Sérgia Maria Mendonça Miranda e a seus familiares em decorrência do ato de violência praticado contra parentes dela no decorrer da paralisação das atividades dos policiais militares. Tio-avós da magistrada sofreram ameaças de morte e violência física em sua residência, localizada no Município de Horizonte, na Região Metropolitana de Fortaleza. Os fatos ocorreram no último dia 4.
O fato veio à tona, de forma oficial, ainda na madrugada de ontem, durante entrevista do coronel do Exército Brasileiro, Medeiros Filho, chefe do setor jurídico da 10ª Região Militar. "Amordaçaram e torturaram parentes da desembargadora. Vamos apurar, vamos investigar. Vamos levar em conta que foi ela quem decretou a desocupação da 6ª Companhia do 5ºBPM", disse o militar, se referindo à decisão da magistrada para que os PMs desocupassem o Quartel que usaram como ponto de concentração durante o movimento por melhores salários.
Segundo o coronel Medeiros Filho, membros do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) virão a Fortaleza com o objetivo de apurar o caso. Contudo, o advogado Jorge Hélio, membro local do CNJ, negou que o caso tenha sido levado ao conhecimento daquela instituição.
Já o Tribunal de Justiça do Estado do Ceará informou que, até ontem, não tinha informações sobre o episódio. A desembargadora também preferiu não comentar publicamente o caso.
Na entrevista concedida à Imprensa logo após o incidente envolvendo uma patrulha do Exército e os policiais civis em greve, na Praça dos Voluntários, no começo da madrugada de ontem, o coronel Medeiros Filho não deu muitos detalhes sobre a agressão aos familiares da desembargadora, mas deixou claro que o assunto está ligado à posição que a magistrada tomou em relação aos grevistas.
Armados
Em seu despacho, a desembargadora foi enfática ao se reportar à postura dos PMs durante a ocupação ao Quartel da 6ª Companhia do 5º BPM (Antônio Bezerra), para onde foram levadas todas as viaturas da corporação que atuam no patrulhamento da Grande Fortaleza. "Retêm ilegalmente as viaturas militares, inviabilizam o acesso aos quartéis invadidos, apropriando-se, indevidamente, de bens públicos e, ainda, para agravar a situação, portam armas de fogo e consomem bebidas alcoólicas no interior das instalações militares, utilizando mulheres e crianças como verdadeiro escudo humano". No documento, a desembargadora deferiu uma liminar determinando o retorno imediato dos PMs às atividades.
Os militares, porém, ignoraram as ordens da Justiça e só, dois dias depois, terminaram a paralisação quando o Governo do Estado aceitou a maioria das reivindicações. No dia seguinte (5), eles devolveram as viaturas e desocuparam o quartel.
Incidente quase vira confronto
Um incidente por pouco não terminou em confronto armado entre policiais civis em greve e uma patrulha do Exército, no começo da madrugada de ontem. O fato ocorreu quando os militares, transportados em um caminhão, se aproximaram da Praça dos Voluntários, no Centro, onde os manifestantes estão acampados desde a noite da última terça-feira.
A princípio, os policiais civis acreditavam que os militares estavam chegando ao local com a missão de desocupar o espaço público ocupado por eles. Os grevistas seguiram em direção ao caminhão gritando palavras de ordem e exigindo que os soldados se retirassem. A presidente do Sindicato dos Policiais Civis (Sinpoci), Inês Romero, pediu calma aos inspetores e escrivães. Alguns foram filmados portando armas de fogo. Em meio ao tumulto, um tenente que comandava a patrulha desceu do caminhão e foi dialogar com a presidente do Sinpoci. Minutos depois, o caminhão foi retirado do local.
Desculpas
Em seguida, cerca de uma hora depois, o coronel do Exército, Medeiros Filho, chefe da Assessoria Jurídica da 10ª Região Militar, compareceu ao local e pediu formalmente desculpas pelo fato, informando que, "em hipótese alguma´, havia a intenção das tropas federais de entrar em confronto com os policiais.
Depois que os militares se retiraram do local, os policiais utilizaram veículos e até pedras para bloquear todas as ruas próximas que dão acesso à Delegacia Geral e à Praça dos Voluntários.
Sinpoci entrega pauta ao procurador
A diretoria do Sindicato dos Policias Civis do Ceará (Sinpoci) terminou de elaborar, na tarde de ontem, a pauta mínima que deverá ser apresentada ao governador Cid Gomes. O documento foi intitulado ´Carta de Solicitação e Compromisso´.
O documento é composto por quatro pontos, que são apresentados pela categoria como imprescindíveis para o fim da greve. Anistia, reajuste salarial, pagamento das horas extras e a possibilidade de promoção para os profissionais de nível médio são apontados como pontos essenciais. Caso sejam atendidos, os policias civis se comprometem a voltar ao trabalho.
Reunião
Na manhã de ontem, representantes do Sinpoci; o presidente da OAB-CE, Valdetário Monteiro; a defensora pública geral do Estado, Andréia Coelho e o deputado federal Chico Lopes foram até a Procuradoria Geral de Justiça, onde os esperava o novo procurador geral da Justiça, Ricardo Machado, para receber a pauta mínima. No encontro, alguns pontos foram modificados.
O procurador assegurou que entregaria o documento ao procurador geral do Estado, Fernando Oliveira, ainda ontem, para que ele repassasse as reivindicações ao governador.
É possível que toda esta transação já tenha sido feita e Cid Gomes tenha em mãos o que os policiais almejam com a paralisação. No entanto, até a noite passada o comando de greve ainda não havia recebido nenhuma proposta de negociação ou o posicionamento oficial do Governo do Estado.
Insatisfação
Segundo o advogado do Sinpoci, Leandro Vasques, o documento não visa resolver instantaneamente o impasse, mas abrir as negociações. "O que queremos é apresentar nossas propostas e ouvir uma contraproposta do Governo", ressaltou.
Ainda segundo Leandro Vasquez, o movimento não foi incitado pelo sindicato. "O que aconteceu foi uma insatisfação incontrolável". A categoria diz que se decepcionou, quando viu que não estava havendo "isonomia de tratamento".
Os policias teriam se decepcionado por não terem sido recebidos em seis meses de paralisações, enquanto a Polícia Militar foi atendida e teve várias conquistas em seis dias. Um dos principais pontos que o Governo alegava, para impossibilitar o aumento dos policias civis, quando se negava a atendê-los, era que se o fizesse, seria necessário conceder também aos PMs.
BpChoque ´barra´ grevistas no SVO
Vinte policiais militares do Batalhão de Polícia de Choque (BpChoque) foram acionados, na tarde de ontem, para proteger as dependências do Serviço de Verificação de Óbito (SVO), em Messejana, onde funciona, temporariamente, a Coordenadoria de Medicina Legal (Comel), da Perícia Forense. Os militares foram mandados para o local com o objetivo de impedir a invasão do prédio por policiais civis e auxiliares de perícia em greve.
Os grevistas afirmaram que estavam no SVO para verificar a denúncia de que funcionários terceirizados estariam realizando exames de necropsia. Conforme a Assessoria de Imprensa do Sindicato dos Policiais Civis do Estado (Sinpoci), o objetivo dos policiais, confirmada a informação, era dar voz de prisão às pessoas que realizavam o serviço, pois estariam cometendo crime.
No entanto, ao chegar ao local foram impedidos de entrar no prédio. De acordo com o major PM Alexandre Ávila, os militares permanecerão no SVO para garantir a continuidade dos serviços à população. O perito-geral, Maximiano Chaves confirmou, por telefone, que os terceirizados estavam realmente auxiliando nas necropsias. "O estado de emergência permite. Não podemos deixar os corpos entrar em decomposição", afirmou.
Postada:Gomes Silveira
Fonte:Diário do Nordeste