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quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Por que as alianças acabam?


"... sem a ameaça exterior como fator para forçar a unidade, a guerra interna tende a explodir"
A política está entre os campos mais antigos do pensamento humano. Reflexões sobre o poder e a moral remontam quase aos primórdios da Filosofia, talvez antecedidas apenas pelas conjecturas sobre a origem a e a natureza do mundo e do ser. Mesmo assim, talvez em nenhuma área haja tanta distância entre a realidade prática e o que se concebe como ideal na teoria. Por exemplo: em tese, dois partidos políticos deveriam se aliar em função daquilo que têm em comum. Conceitualmente, as afinidades deveriam ser a motivação das coligações. Mas, na prática, quando dois grupos se articulam para ter condições reais de disputar os governos, fazem-no muito mais pelos ódios em comum que pelas afinidades mútuas que possam ter. Na política - como, aliás, em quase tudo mais - unir-se significa fazer concessões em nome dos benefícios que se irá extrair da parceria. Esse recurso é usado como forma de reunir forças para vencer o adversário mútuo, que provavelmente seria mais poderoso caso o outro lado estivesse dividido. Quando Cid Gomes (foto) se uniu ao PT, em 2006, eles tinham o objetivo de encerrar as duas décadas de domínio tucano sobre o Estado.



Para os petistas, a família Ferreira Gomes representava, até pouco antes, inimigo tão odiado quanto Tasso Jereissati (PSDB-(foto). A adesão de Ciro Gomes ao governo Lula atenuou a rejeição. Ainda assim, o acordo não ocorreu sem resistências. Mas engoliram um ao outro com objetivo de impedir a reeleição de Lúcio Alcântara. Pesou o pragmatismo: melhor dividir o poder que fazer oposição isoladamente. No caso do grupo cidista, a situação tinha particularidade. Eles já estavam no poder e integravam a base de sustentação do tucanato. No entanto, eram coadjuvantes. Daí a decisão de romper e formar uma nova composição política para enfrentar os antigos parceiros: a busca do lugar de protagonista. É essa disputa pela hegemonia dentro das próprias coalizões que explica a maior parte dos rompimentos. E é tal o cenário que antecede a sucessão de 2014 no Ceará.

POUCO ESPAÇO PARA MUITA AMBIÇÃO

Conforme exposto, a maioria das alianças se formam para chegar ao poder e derrotar o adversário mútuo. Quando isso se consuma, o normal é que o inimigo vencido permaneça uma força política relevante, ao menos por certo tempo, e com expectativa de retomar o comando. Enquanto assim for, o medo do retorno desse passado é fator para manter intacta a aliança. Quando tal ameaça deixa de existir, a disputa dentro do próprio grupo governista tende a se tornar incontrolável. Como já foi dito, eventuais afinidades programáticas que porventura haja são absolutamente secundárias para entendimentos de tal natureza. Portanto, sem a ameaça exterior como fator para forçar a unidade, a guerra interna tende a explodir. Assim como se deu com Cid em relação a Lúcio, também PT e PMDB - cedo ou tarde - desejarão assumir o controle da situação. As articulações já miram 2014. E os humores políticos de 2012 apenas antecipam essa expectativa de fim da enorme coalizão. O único fator que ainda não permite garantir que o rompimento se consumará é o próprio governador e sua conhecida habilidade. Não apenas porque quem está na condução do processo naturalmente é o maior interessado em preservar o estado de coisas. Mas Cid, além disso, é dos mais convictos e militantes aliancistas da política brasileira. Para ele, fazer parcerias não se limita a método para conquistar poder. É da essência de governar. Essa quase obsessão pela conciliação é o que pode impedir a ruptura. Mas o caminho natural de PMDB e PT parece ser, dentro de dois anos, partir para a disputa pelo Palácio da Abolição.

O CARNAVAL DA RUA E DA CIDADE

Nascidos do Pré-Carnaval, Sanatório Geral, Num Ispaia Sinão Ienche e, neste ano, também o Luxo da Aldeia viraram blocos carnavalescos. São fenômenos de público - até mais que talvez os próprios organizadores quisessem. Fortaleza ganhou fama de cidade sem Carnaval, mas isso virou passado. Hoje, não passa de mito. Os blocos de rua mostraram que havia monumental demanda reprimida. Não é que o fortalezense não gostasse de folia. Ele apenas não sairia à rua sem ter bloco para seguir. Se essa sequência tiver continuidade, outras agremiações deverão migrar do Pré para o Carnaval. E o melhor é que dividem espaço com os shows do aterro e os tradicionais desfiles da avenida Domingos Olímpio. Plural, como toda boa festa precisa ser. E há público para todos e para muitos mais. E, além disso, Fortaleza também tem espaços e opções para quem prefere descanso e sossego. Dentro de alguns anos, poderemos constatar que um extraordinário processo pode estar surgindo. Ele já parece irreversível.




Postada:Gomes Silveira
Fonte:O Povo

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