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terça-feira, 29 de maio de 2012

CPI - Demóstenes: diretor da Delta usou meu nome para fortalecer empresa


 
Acusado de ter sociedade nos negócios da construtora Delta, o senador Demóstenes Torres (sem partido-GO) disse nesta terça-feira que teve o nome usado por executivos da empresa sem o seu conhecimento. Demóstenes tentou demonstrar aos senadores do Conselho de Ética que Cláudio Abreu, ex-diretor da Delta no Centro-Oeste e preso pela Polícia Federal, buscava fortalecer a empresa ao usar o
nome de um senador goiano, para medir forças com os concorrentes. "Eu não posso ser responsável pelo que os outros dizem de mim. Sócio oculto da empresa Delta não sou eu. Cláudio Abreu dizia que era meu sócio para aumentar força da empresa diante da concorrência."


Ao colegiado, Demóstenes admitiu que sempre atuou em defesa de empresas do seu Estado. O parlamentar quebrou o silêncio pela primeira vez na manhã de hoje e admitiu, também, que procurou ministros do Executivo e Judiciário para fazer lobby em favor de obras e projetos no Estado de Goiás, "mas nunca com demandas escusas".
"Atuei em favor de todas as empresas de Goiás que me procuraram. Eu fui a praticamente todos os ministros, ainda que sendo de oposição, ainda que recebendo uma resposta não, porque entendi que essa era minha obrigação. Entendi que assim deveria proceder, mas nunca com pleito escuso ou equivocado. Nunca tive uma conversa atravessada com qualquer membro do Judiciário, levei empresários do Brasil inteiro a membros do Judiciário quando tinham demandas que eu achava que valiam a pena", disse.

O senador reconheceu três fatos a respeito de sua conduta noticiados desde a prisão de Cachoeira. "Eu andei em avião de empresários de Goiás, não de Cachoeira; arrumei emprego (para aliados), e peço desculpas ao senador Aécio Neves (PSDB-MG) pelo desgaste; e fui a autoridades." O senador reconheceu ter agido para conseguir encaixar amigos em postos de trabalho, inclusive uma prima de Cachoeira no governo de Minas Gerais. Aécio, ex-governador mineiro, admitiu que indicou a mulher, a pedido do senador, mas negou conhecer o parentesco dela com o bicheiro.

Ele rebateu os pontos do relatório preliminar do colega Humberto Costa (PT-PE), que pediu abertura de processo contra o senador por considerar que ele mentiu ao dizer que só tinha relações sociais com o bicheiro Carlinhos Cachoeira. No parecer, Humberto Costa também alega que Demóstenes atuou para favorecer os negócios do contraventor, o que foi negado pelo acusado.

"Atuei, sim, em favor da Vitapan junto à Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanintária), como atuei em favor de todas as empresas de Goiás que me procuraram. A Vitapan me procurou, era do Cachoeira sim, fui lá, e atuei por todas as demais empresas farmacêuticas de Goiás", disse Demóstenes. O senador se referiu às acusações de que teria feito lobby em favor da Vitapan, empresa farmacêutica que pertence ao bicheiro.

Outra acusação contra Demóstenes é a de que ele teria usado um avião de Cachoeira, o que foi negado pelo parlamentar. "Houve comprovação que não recebi dinheiro dele (Cachoeira), que não pertenço a jogo e não recebei recurso para pagar avião dele", destacou.

Ao responder a questionamentos do relator da Comissão, Humberto Costa (PT-PE), Demóstenes disse que conheceu Cachoeira enquanto era secretário de Segurança de Justiça, entre 1999 e 2002. Segundo o senador, Cachoeira, na condição de explorador exclusivo do jogo em Goiás, cobrava de Demóstenes e de outras autoridades atuação contra outros exploradores, que eram ilegais.

O senador afirmou ainda não reconhecer sua voz nas gravações divulgadas. "Muitas conversas foram montadas, editadas. Por isso, há um requerimento de perícia de nossa defesa."

Ao ser questionado se se sentia traído por Carlinhos Cachoeira, Demóstenes foi direto. "Acho que todo mundo. Todo mundo que se relacionou com ele e não tinha conhecimento (das atividades ilícitas) porque ficamos na pior situação do mundo."

Quase ao final de seus questionamentos, o relator quis saber se Demóstenes alguma vez havia viajado em aviões da Delta. "Uma vez peguei carona com o Cláudio Abreu (ex-diretor da Delta) que saiu daqui (Brasília) e me levou até Goiânia." O senador negou ainda ter atrapalhado investigações sobre a Delta.
Ainda ao responder perguntas dos colegas, Demóstenes negou ter se encontrado alguma fez com o empresário Fernando Cavendish, dona da Delta. Ele confirmou que esteve duas vezes na companhia, a primeira para entregar um iPad que lhe fora emprestado e outra para visitar a empresa, como fazia com outras companhias.

Carlinhos Cachoeira
Acusado de comandar a exploração do jogo ilegal em Goiás, Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, foi preso na Operação Monte Carlo, da Polícia Federal, em 29 de fevereiro de 2012, oito anos após a divulgação de um vídeo em que Waldomiro Diniz, assessor do então ministro da Casa Civil, José Dirceu, lhe pedia propina. O escândalo culminou na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Bingos e na revelação do suposto esquema de pagamento de parlamentares que ficou conhecido como mensalão.

Escutas telefônicas realizadas durante a investigação da PF apontaram contatos entre Cachoeira e o senador democrata Demóstenes Torres (GO). Ele reagiu dizendo que a violação do seu sigilo telefônico não havia obedecido a critérios legais.

Nos dias seguintes, reportagens dos jornais Folha de S.Paulo e O Globo afirmaram, respectivamente, que o grupo de Cachoeira forneceu telefones antigrampos para políticos, entre eles Demóstenes, e que o senador pediu ao empresário que lhe emprestasse R$ 3 mil em despesas com táxi-aéreo. Na conversa, o democrata ainda vazou informações sobre reuniões reservadas que manteve com representantes dos três Poderes.

Pressionado, Demóstenes pediu afastamento da liderança do DEM no Senado em 27 de março. No dia seguinte, o Psol representou contra o parlamentar no Conselho de Ética e, um dia depois, em 29 de março, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Ricardo Lewandowski autorizou a quebra de seu sigilo bancário.

O presidente do DEM, senador José Agripino Maia (RN), anunciou em 2 de abril que o partido havia decidido abrir um processo que poderia resultar na expulsão de Demóstenes, que, no dia seguinte, pediu a desfiliação da legenda, encerrando a investigação interna. Mas as denúncias só aumentaram e começaram a atingir outros políticos, agentes públicos e empresas.

Após a publicação de suspeitas de que a construtora Delta, maior recebedora de recursos do governo federal nos últimos três anos, faça parte do esquema de Cachoeira, a empresa anunciou a demissão de um funcionário e uma auditoria. O vazamento das conversas apontam encontros de Cachoeira também com os governadores Agnelo Queiroz (PT), do Distrito Federal, e Marconi Perillo (PSDB), de Goiás. Em 19 de abril, o Congresso criou a CPI mista do Cachoeira.
Postada:Gomes Silveira
Fonte:Terra

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