Movimento tranquilo no fim da tarde e início da noite. Usuários se mostram aliviados com a presença dos militares
O que faltou nas ruas de Fortaleza e em alguns municípios do Estado sobrou nos terminais rodoviários urbanos de passageiros da Prefeitura: segurança. Em meio à surpresa e aprovação da população, homens do Exército ocuparam os terminais desde a tarde de ontem.
"Agora estou tranquilo. Essa turma aí é de respeito e não alisa bandido. Veja o que fizeram nos morros do Rio de Janeiro", comparou o pedreiro Isac Soares Marques, 50 anos, que aguardava um ônibus no Terminal da Parangaba. "Trabalho na Praia de Iracema e já estava imaginando como seria o retorno para casa com esse tumulto todo. Para surpresa, vi os militares e logo o temor desapareceu", reforçou o pintor João Ferreira Mendes.
"Só não é melhor porque daqui a algum tempo eles vão embora", argumentou, preocupado, o autônomo Antônio Simões Guedes, 49 anos.
Segundo ele, o coletivo que faz a linha Fortaleza/Mangabeira via Eusébio foi parado à bala por dois desconhecidos no Eusébio. "Todos os passageiros viveram momentos de pânico. Foi um desrespeito e uma ação covarde. Queria ver eles repetirem isso agora na presença do pessoal do Exército", finalizou Simões, que aguardava condução no Terminal do Siqueira.
Ocupação
Em Parangaba, cerca de 30 militares chegaram por volta das 18 horas no terminal rodoviário. Eles se espalharam pelas escadarias, no pavimento de cima e nas plataformas de passageiros. Um oficial que não quis precisar detalhes da operação "por questão de estratégia" revelou apenas que o mesmo procedimento estava sendo desencadeado também nos demais terminais.
O detalhe é que os soldados, armados de fuzis e pistolas, chegaram em cinco viaturas novinhas, da marca Sandero, pertencentes ao Governo do Ceará. Além do símbolo do Estado, os veículos foram, ao que parece, adesivados improvisadamente com o nome "polícia".
Por conta do fechamento do comércio no início da tarde, muita gente antecipou o retorno para casa. Dessa forma, o movimento nos terminais e nas proximidades, no início da noite, foi aquém dos registrados em dias normais. "O prejuízo foi de todos. Consegui pegar apenas quatro passageiros ao invés dos dez habituais", reclamou o mototaxista Francisco Martins, que há três anos trabalha num ponto defronte ao Terminal Siqueira.
Motoristas e cobradores de transporte público de Fortaleza podem paralisar atividades de algumas linhas de ônibus, ressaltou o presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Transportes Rodoviários do Estado do Ceará (Sintro), Domingos Neto. Segundo ele, caso haja a paralisação, somente linhas próximas de pontos onde houve grande número de assaltos a ônibus durante a greve serão afetadas. O Sindicato das Empresas de Transportes de Passageiros do Ceará (Sindiônibus) informou que "as empresas de transporte de Fortaleza e região metropolitana vão operar hoje normalmente".
Agentes da AMC serão escoltados por militares
Durante o período em que a paralisação dos policiais e bombeiros militares continuar, os agentes da Autarquia Municipal de Trânsito (AMC) vão ser escoltados por soldados do Exército ou da Força Nacional em todas as ocorrências em que forem trabalhar, assim como a haverá a permanência de soldados nos terminais de ônibus. A decisão foi tomada, ontem à tarde, em reunião na 10ª Região Militar, entre as forças de segurança e AMC, Empresa de Transporte Urbano de Fortaleza e Guarda Municipal e Defesa Civil de Fortaleza.
O encontro aconteceu devido à falta de segurança para que os agentes do órgão possam realizar o seu trabalho nesses últimos dias. Por conta dos problemas na Capital, o efetivo da AMC ficou concentrado na sede do órgão.
Segundo o diretor do Sindicato dos Servidores Públicos do Município de Fortaleza (Sindifort), Ednardo Araújo, os agentes decidiram, em assembleia realizada ao meio-dia, paralisar o trabalho devido à insegurança. "É impossível trabalhar", diz.
Araújo acrescentou que os servidores da AMC vão voltar a realizar assembleias em todos os turnos para votar na volta ou não das atividades. "A situação pode mudar de acordo com o que vai acontecer com os PMs. Por isso vamos realizar várias reuniões", afirma Ednardo.
Ele comentou que a categoria está iniciando campanha salarial e fará as próprias reivindicações durante a paralisação. "Nesse período também vamos lutar por nossa categoria", disse.
Até às 16h30 de ontem a categoria continuava paralisada. A reportagem tentou entrar em contato com a assessoria de imprensa do Sindifort ou seus diretores mais não obteve retorno.
A assessoria de imprensa da AMC informou que o órgão não aderiu à paralisação e que os agentes vão atender normalmente às ocorrências que acontecerem em toda a cidade.
Bairros ficam sem táxi e ambulâncias
"Se o cenário não está seguro a equipe do Samu não tem obrigação de atender". A afirmativa é do diretor médico do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) de Fortaleza, Messias Simões. Com a declaração, o médico explica que o serviço não paralisou diante do movimento da Polícia Militar, mas que uma orientação foi dada para as equipes para evitarem atender em áreas da cidade consideradas de risco. Além disso, a orientação envolveu ocorrências de violência provocadas por armas de fogo ou arma branca. Segundo ele, após a paralisação da Polícia, os casos de lesões a bala "aumentaram significativamente".
Segundo Messias Simões, durante o fim de semana do Réveillon, somente de sábado para domingo, foram realizados 116 atendimentos por causas externas: acidentes de trânsito e agressões, destas, 90 ocasionados por arma de fogo. Ele esclarece que, em atendimentos a casos de agressão, a regra é que as equipes se aproximem do local e só atuem quando a segurança estiver garantida.
"A gente trabalha em parceria com a Coordenadoria Integrada de Operações de Segurança (Ciops), avaliando instantaneamente os locais de atendimento e acompanhando. "Se o cenário não é seguro, não há como atuar", fala. Ainda de acordo com ele, já existiram situações onde a equipe do Samu foi agredida e até assaltada.
A médica socorrista e chefe de plantão do Samu, Luciana Barroso, conta que as ambulâncias não estão atendendo depois das 19 horas em bairros como Bom Jardim, Granja Portugal e Tancredo Neves. Conforme explica, a ausência de acompanhamento policial gera atraso e alguns chamados são atendidos com o dobro do tempo habitual. "As equipes evitam ir para essas áreas e a população fica sem socorro. Quando não há polícia, nosso trabalho fica prejudicado".
A médica ainda afirma que, no último domingo, o serviço só conseguiu atender duas ocorrência com apoio da Polícia Militar. Outros 14 chamados por agressões, infelizmente, terminaram em óbito.
Para o professor, médico socorrista e coordenador do curso de formação de socorristas da Universidade de Fortaleza (Unifor), Daniel Sarquis, o primeiro quesito para que o serviço de atendimento de emergência pré-hospitalar aconteça é a segurança das equipes.
Segundo ele, a maneira correta é que toda atuação desse serviço seja acompanhado por um grupo de policiais, uma equipe do Corpo de Bombeiros e outra da companhia de trânsito da cidade, porém, não é isso que acontece normalmente. "O carro da Polícia deve chegar antes do socorro médico, justamente para preparar o local. Assim, evitamos que pessoas agressivas, armadas e envolvidas em conflitos atinjam as equipes médicas com violência", destaca.
Táxis
Na noite da última segunda-feira, dia 2 de janeiro, às 19 horas, na quarta etapa do Conjunto Ceará, o taxista Jefferson Douglas Ferreira de Sousa, 25, foi abordado por homens armados a dois quarteirões de sua casa. Assustado, o jovem acelerou o veículo e foi atingido com um tiro nas costas. Em estado estável, o taxista está internado no Instituto Dr. José Frota (IJF).
Cenas de violência são comuns no cotidiano desse profissionais. Contudo, sem a presença de policiamento nas ruas, a categoria também evita circular por bairros localizados em áreas de risco, como afirma o presidente do Sindicato dos Taxistas de Fortaleza (Sinditáxi), Vicente de Paulo Oliveira. Uma das orientações aos motoristas, conforme informa, é que os profissionais evitem circular pela cidade buscando passageiros.
Postada:Gomes Silveira
Fonte:Diário do Nordeste
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