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quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Sem Polícia na rua, fortalezense fica em casa, e comércio fecha as portas


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No Parque Santa Rosa, em Messejana, comércios baixaram as portas ainda cedo
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O último episódio de paralisação que envolveu a Polícia Militar do Ceará ocorreu em 29 de julho de 1997, durou três dias e acabou com seis feridos
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Cartazes anunciavam que lojas de importantes corredores comerciais da cidade, como a Av. Dom Luiz, estavam de portas cerradas no dia de ontem
Comércios à meia-porta, lojas fechadas, prejuízo, pessoas em pânico. Este foi o cenário de um dia que virou história
Cinco dias após iniciada a paralisação dos policiais militares, o caos se instalou, ontem, em Fortaleza. À medida em que ocorrências reais de violência foram se misturando aos boatos de supostos arrastões e agressões à bala feitas de maneira aleatória pela cidade, a população começou a se entrincheirar em suas casas, voltar do trabalho, das escolas públicas, enfim, a entrar em pânico.

O mal estar coletivo foi se desenhando no início da manhã, sendo potencializado no decorrer do dia, principalmente devido ao uso inadequado das redes sociais. Segundo a segundo, informações verídicas ou não entravam na rede dando conta de novas ocorrências de violência. O dia na cidade começou com tudo funcionando, mas, poucas horas depois, por conta do medo, tudo ficou vazio. Comércio fechado, serviços também prejudicados, funcionários das empresas privadas e servidores públicos indo mais cedo - assustados - para casa.

No centro da cidade, por volta das 9 h da manhã, o funcionamento estava normal, embora, com movimento mais fraco do que o habitual. Bastou um grito de arrastão, para provocar correria na Praça do Ferreira e esvaziar a área. O que se viu a seguir foi o desespero de comerciantes e clientes. Lojistas fecharam imediatamente suas portas.

A situação não foi diferente no entorno do Mercado Central. O mesmo boato de um arrastão nas proximidades fez com que populares buscassem refúgio dentro do mercado, que também fechou as portas.

A aposentada Nizita Vilar, 58, é da Paraíba, e está há três dias na cidade para compras. Segundo ela, estava dentro do Casarão dos Fabricantes quando viu a movimentação. "Fiquei muito assustada, sem saber o que fazer. Essa situação está muito complicada", lamenta.

Turistas ficaram sitiados no Centro de Turismo do Ceará (Emcetur), na rua Senador Pompeu. Segundo o administrador do prédio, Laéti Fernandes, o fechamento foi por apenas 15 minutos, por medida de precaução. " Fechamos por segurança, para avaliar a situação", explica. No final da manhã, o Exército já ocupava as ruas do centro, deixando o clima mais tranquilo. Para o comerciante Gledson de Souza, 45, a tropa deveria estar no local desde o início da manhã, garantindo a segurança de lojistas e da população. "O governador tem que resolver essa situação o mais rápido possível", afirma.

O clima de pânico se estendeu para a Avenida Monsenhor Tabosa, na Praia de Iracema, onde segundo os lojistas e comerciários, a orientação veio da própria Força Nacional de Segurança que teria avisado sobre o risco de arrastões vindos do Centro.

Logo cedo a avenida estava repleta de turistas, mas com a notícia de arrastões a grande maioria foi embora. Às 11h, poucas pessoas permaneciam. Situação que se estendeu pela tarde. A vendedora Renata Oliveira, 20, grávida de sete meses, só pensava em como iria fazer para chegar em casa, pois a notícia era de que os ônibus estavam parados.

Aldeota
Já na Avenida Dom Luís, a preocupação não era com transporte público, mas com a segurança mesmo. No restaurante Dallas, o proprietário, Luís Carlos Hickmann, disse que abriria para o almoço, mas não sabia se iria funcionar no jantar.

Por precaução, reforçou a segurança. Na mesma avenida, num edifício de consultórios médicos, os acessos pela Rua Pereira Valente e Avenida Dom Luís foram bloqueados. As medidas foram de caráter preventivo, pois nenhuma tentativa de assalto tinha sido registrada no local.

Preocupação
A preocupação das pessoas com a segurança estava em toda as regiões da cidade. A universitária Daniele Silva, 24, por exemplo, estava indo para sua consulta médica, no distrito de Maracanaú, quando recebeu a ligação de familiares informando sobre os ´arrastões´.

Ela parou o carro em um supermercado, que já estava fechando as portas. E então decidiu não seguir caminho. "Voltei pra casa, tranquei portas, janelas, e estou presa".

Em um cursinho na Avenida Dedé Brasil, a administradora Camila Cavalcante, 30, assistia aula preparatória para concurso, quando recebeu a informação da direção de que os alunos deveriam ir para casa. " Disseram que estava tendo arrastões na Parangaba e Maraponga".

Tempo
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Estabelecimentos amargam um dia sem segurança e sem consumidores
Uma terça-feira de prejuízos para o comércio de Fortaleza. Sem movimento de consumidores motivado pelo clima de insegurança instalado na cidade, a maioria dos empresários optou por manter as portas fechadas ou cerrá-las ainda no expediente da manhã.

O presidente da Associação dos Lojistas da Avenida Monsenhor Tabosa (Almont), Antônio Gonçalves, estima que os estabelecimentos do local amargaram uma redução de até 70% no faturamento.

"Por volta de 14h só tínhamos 30% das lojas funcionando. Essa é uma situação vexatória e inoportuna. Esperamos que volte a normalidade o quanto antes. Com muitos turistas na cidade não podíamos perder tanta venda", comentou ele, informando que hoje, a expectativa é que os lojistas da Avenida abram as portas com um efetivo de seguranças particulares.

Para promover a segurança dos clientes, as grandes lojas e supermercados da cidade também reforçaram a segurança terceirizada. "Quem tem essa possibilidade financeira de contratar segurança, está fazendo. Outras lojas de menor porte, estão preferindo nem abrir", explicou o presidente do Sindicato do Comércio Varejista e Lojista de Fortaleza (Sindilojas), Cid Alves, contudo, sem saber mensurar uma cifra aproximada referente às perdas de caixa do dia de ontem.

"Nossa preocupação maior é que o Governo do Estado e o comando de greve cheguem a um acordo e que se restabeleça a ordem e o funcionamento normal da cidade o quanto antes. Quanto ao comércio, não tenho dúvidas de que esse dia de prejuízo irá impactar no desempenho de janeiro", afirmou o presidente da Federação do Comércio do Estado do Ceará (Fecomércio/CE), Luiz Gastão.

Hotéis da orla criam barreira de proteção
Percorrendo a Avenida Beira-Mar, na tarde de ontem, era possível perceber que vários hotéis da orla optaram por fixar tapumes em suas calçadas, no sentido de gerar proteção aos hóspedes e ao patrimônio contra possíveis vandalismos.

Segundo o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (Abih/CE), Régis Medeiros, o atual momento é bastante preocupante, uma vez que os visitantes que se encontram na Capital acabam sendo contagiados pela sensação de insegurança. "O clima que se formou e a repercussão no noticiário nacional geralmente atrapalham. Acredito que ainda é muito prematuro para dizer que os turistas estão deixando a cidade, mas eles estão se incomodando com o comércio e os restaurantes fechados", ressaltou Medeiros.

O empresário observa que, caso a atual situação se prorrogue por mais tempo, pode ser que outras pessoas que desejam vir desfrutar férias por aqui desistam. "A coisa tomou um corpo muito mais acentuado do que imaginávamos. Era terça-feira, mas parecia domingo. As ruas estavam desertas", comentou.

Prejuízo incalculável
Barracas da Praia do Futuro e restaurantes situados na Avenida Beira-Mar e Praia de Iracema e que são tidos como turísticos também suspenderam suas atividades. "Esperamos por uma solução o mais rápido possível. Além da imagem do Estado ter ficado manchada, foi muito dinheiro envolvido na promoção turística e a gente fica sem poder abrir as portas. É um prejuízo incalculável", cobrou o presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes no Ceará (Abrasel/CE), Augusto Mesquita.

O empresário destaca ainda que, por conta da demanda momentânea maior, está difícil até conseguir seguranças particulares no mercado local. 

Postada:Gomes Silveira
Fonte:Diário do Nordeste

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