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segunda-feira, 18 de junho de 2012

Desacordo na conferência - Texto preliminar mostra falta de interesse de países ricos em fundo


Rascunho de documento exclui investimentos para sustentabilidade. Mudanças em texto serão encerradas hoje

Rio de Janeiro  Os negociadores na Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio+20), retomaram as reuniões na manhã de ontem
em busca de soluções para as lacunas ainda presentes nas articulações. Segundo os negociadores brasileiros, o documento final deve ser encerrado pelas delegações hoje.
Foto - Sociedade mobilizada: A Cúpula dos Povos, evento paralelo à Conferência das Nações Unidas, mostra diversidade cultural, formas de captação de energia alternativas, manifestações diversas. Montado em vários estandes do Aterro do Flamengo, o evento, que é organizado pela sociedade civil, busca mobilizar a sociedade e pressionar os líderes globais que se reunirão na Rio+20 nesta semana


O texto preliminar mostra que os temas controvertidos, como definições de recursos e metas pontuais, foram excluídos. O rascunho é amplo e generalista, mas ressalta aspectos sociais, como as parcerias para a erradicação da pobreza, a melhoria na qualidade de vida nos assentamentos, transportes e educação, além do combate à discriminação por gênero.

Negociado na noite de sábado, o documento não traz menção sobre a criação do fundo anual de US$ 30 bilhões, a partir de 2013, e que alcançaria US$ 100 bilhões em 2018. A proposta defendida pelo Brasil e por países de economias em desenvolvimento foi rejeitada pelas nações mais ricas.

Para o negociador-chefe do Brasil, Luiz Alberto Figueiredo, os países desenvolvidos não têm se comprometido de forma "concreta" com o financiamento das ações voltadas ao desenvolvimento sustentável.

Foto - Rodada de debates: Abertura da série de debates denominados Diálogos para o Desenvolvimento Sustentável, na segunda etapa da Rio+20. As rodadas de conversas representam a democratização da discussão de temas relevantes com a sociedade

"Fizemos consultas nesta manhã (ontem) sobre meios de implementação. Está correndo bem, dentro daquele quadro de que os países doadores têm grande dificuldade de se comprometerem com cifras concretas e mesmo de reafirmaram os compromissos assumidos", afirmou.

Em substituição à proposta de criação do fundo, há o compromisso de ser criado um fórum para apreciar o assunto a partir de nomeações das Nações Unidas. O documento preliminar está dividido em seis capítulos e 287 itens. Os capítulos mais relevantes são os que tratam de financiamentos e meios de implementação (relacionados às metas e compromissos que devem ser cumpridos).

O texto destaca também a necessidade de os países fortalecerem as parcerias para a transferência de tecnologia limpa. Mas não há detalhamento, pois a questão divide os países desenvolvidos e os em desenvolvimento. Nas situações de impasse, o rascunho apela para os mais ricos contribuírem para o desenvolvimento sustentável.

Houve ainda preocupação de ressaltar as questões sociais. "Reconhecemos que a erradicação da pobreza em conjunto com a mudança insustentável e promoção de padrões sustentáveis de consumo e produção e a proteção e gestão da base de recursos naturais do desenvolvimento econômico e social são os objetivos fundamentais e requisitos essenciais para o desenvolvimento sustentável", diz o texto.

Um dos itens mais polêmicos foi o conceito de economia verde. Para os países ricos, a preocupação é com a produção, o consumo e a comercialização de mercadorias. Com o objetivo de evitar controvérsias, foram colocadas recomendações gerais.
Foto - Contra Ahmadinejad: Cerca de 300 pessoas participaram de um protesto na Praia de Ipanema contra a presença do presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, na Rio+20. O movimento foi organizado pela comunidade judaica e teve apoio de ativistas FOTOS: AGÊNCIA BRASIL

"A economia verde no contexto do desenvolvimento sustentável e a erradicação da pobreza existem diferentes abordagens, visões, modelos e ferramentas disponíveis para cada país, de acordo com suas circunstâncias e prioridades nacionais para alcançar o desenvolvimento sustentável nas suas três dimensões que é o nosso objetivo primordial", diz o rascunho.

No entanto, há 15 sugestões sobre economia verde relacionada à soberania nacional e ao desenvolvimento sustentável. Há referências sobre aumentar o "bem-estar dos povos indígenas em suas comunidades", assim como para mulheres, crianças, jovens e pessoas com deficiência. Também há recomendações sobre a produção de alimentos para a erradicação da pobreza.

Para Luiz Alberto Figueiredo, a maior dificuldade na negociação do texto é conseguir avançar em ações concretas voltadas à implementação dos objetivos assumidos na Rio+20.

"Há um clima de apoio ao Brasil, clima de reconhecimento dos esforços brasileiros e um clima de genuína vontade de chegar a um consenso", declarou otimista o negociador.

Para o ex-representante da ONU para mudanças climáticas, Yvo de Boer, o texto não mostra o "desejo de provocar mudanças radicais". "Não vamos resolver esses problemas globais apenas com reafirmações de crenças. Precisamos de uma mudança fundamental de direção", disse.
ANÁLISE
Cúpula dos Povos é espaço de todos
MARISTELA CRISPIM
EDITORA DE REPORTAGEM ESPECIAL

Andar pela Cúpula dos Povos, evento paralelo à Rio+20, organizado pela sociedade civil global, é uma grande mistura de sensações. Há espaço para todas as cores, traços, cheiros e sabores. No lugar, é permitido expressar todo tipo de sentimento e ideal.

Há quem comercialize a sua arte, presenteie seus pensamentos, ofereça a paz, questione ideologias, a lógica do mercado. Enquanto a conferência oficial, discute a economia verde, a Cúpula dos Povos a questiona. A indagação repousa sobre o sistema que estimula um mercado que avilta o tempo normal que a natureza tem para se regenerar ao estimular um consumo insaciável.

Em apenas uma manhã de andanças pela cúpula vi muitas experiências interessantes de se dividir com quem não teve a oportunidade de participar. Uma delas é a tecnologia desenvolvida por um grupo de biólogos de São Paulo que carrega equipamentos por meio de pedaladas. É como se transformássemos o nosso colesterol em carga para celulares ou tablets.

Em minhas andanças no Parque do Flamengo, conheci o "Homem Planta". Desde 1999 o mineiro José Gerardo da Silva, hoje com 52 anos, se fantasia para declarar o amor pela natureza: "Devemos preservá-la como a nossa própria vida", resume.

Mais uns passos, encontro Samuel Braga. Um cearense que esteve na Rio - 92 e me contou alguma coisa sobre avanços e retrocessos nestes 20 anos. "Tivemos alguns avanços, como a Lei de Crimes Ambientais, mas em termos de política públicas, tivemos avanços e recuos. É inaceitável esse desmonte da política nacional de meio ambiente", lamentou referindo-se ao Código Florestal.





Postada:Gomes Silveira
Fonte:Diário do Nordeste

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