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quinta-feira, 12 de abril de 2012

Confira entrevista com Halder Gomes, produtor de “Área Q”



Halder Gomes: cineasta tem atraído olhares do Brasil e para o mundo para o Ceará
Trabalhar com cinema no Brasil, como bem definiu o cineasta Halder Gomes, é como a profissão de um atacante de um time de futebol: precisa de gols, de bons resultados para dar continuidade na carreira. Halder, nascido na pequena cidade de Senador Pompeu, no Sertão Cearense, pode ser considerado hoje aquele “jogador” que começou discretamente, aos poucos foi se destacando pelos seus golzinhos, e hoje se encontra em um ponto valioso da profissão: sob os olhares de grandes times nacionais e até internacionais.
Ultimamente ele tem andado com os dias corridos, rodando estados brasileiros trabalhando na divulgação do longa “Área Q”, em que atuou como produtor executivo. O filme, por sinal, guarda a responsabilidade de estreitar o laços entre o Ceará e Holywood, já que a trama (uma co-produção Brasil-EUA) apresenta um jornalista americano (vivido por Isaiah Washington) que vem ao município de Quixadá para investigar a aparição de OVNIs na região. Poucos sabem, mas essa junção de “universos” tem sido uma missão antiga do audacioso diretor/produtor/roteirista.
Iniciou a carreira com o thriller de ação de baixo orçamento “Sunland Heat – No Calor da Terra do Sol”, longa falado em inglês com locações no Ceará e em Los Angeles. Com o curta metragem “Cine Holliúdy – O Astista Contra o Caba do Mal”, uma homenagem aos “sotaques” e costumes cearenses, ganhou notoriedade em festivais, colecionando diversos prêmios. Veio a hora de expandir: vieram o suspense “The Morgue” (que no Brasil foi lançado diretamente em DVD com o título “Cadáveres 2”, apesar de não se tratar de uma continuação) e, entre outros projetos, dirigiu ao lado de Glauber Filho o drama “As Mães de Chico Xavier”, um dos maiores sucessos de bilheteria nacional de 2011.
Com a estreia de “Área Q” marcada para esta sexta-feira (13) nos cinemas brasileiros, Halder concedeu entrevista exclusiva ao blog Cena Cultural, em que falou sobre o projeto, o papel do Ceará no cinema contemporâneo, entre outros assuntos. Confira:
Cena Cultural: Você já realizou um thriller de ação, uma comédia regionalista, um suspense psicológico, um drama de cunhos religiosos, e agora produz uma ficção com toques de drama e novamente espiritualismo. A versatilidade sempre esteve em seus planos quando iniciou no mundo do cinema?
Halder Gomes: Sempre. Faz parte da minha natureza. Já fui atleta de Taekwondo, joguei futebol, Jiu Jitsu, boxe, surf, sou artista plástico de muitos estilos e extremamente inquieto. Na psicologia moderna, hiperativo. No cinema não seria diferente. Escrevo, dirijo, produzo, desenho storyboards, faço minha captação de recursos, etc. E assisto todo tipo de filme e consigo gostar de qualquer gênero, desde que seja uma boa história. E, pra mim, cinema é isso: boas histórias, independente de classificação das mesmas.
Isaiah Washington em cena de "Área Q" com Thânia Khalil
Cena Cultural: Durante as filmagens de “Área Q”, o que foi mais prazeroso e o que foi mais difícil?
Halder Gomes: O maior prazer foi ver o set acontecendo num filme que, se visto do ponto de vista lógico e pragmático de produção, jamais teria acontecido pela velocidade com que saiu da sinopse para o set (6 meses). O mais difícil foi conseguir manter o filme dentro de um cronograma que não podia falhar em um dia sequer. Assim foi feito. Cumprimos tudo à risca.
Cena Cultural: As regiões de Quixadá e Quixeramobim, de fato, são conhecidas pelas lendas referentes às aparições de OVNIs. Você acredita que com a divulgação de “Área Q”, os estudos sobre os fatos na região ou a curiosidade dos turistas irão se intensificar?
Halder Gomes: Na verdade já começou antes mesmo do lançamento. Já tive notícias de pessoas visitando as locações do filme, assim como li em matéria de jornal que os guias turísticos da região já incluem em seus textos as curiosidades do filme. Nas exibições das pré-estreias, pude perceber a curiosidade pelo assunto e o deslumbre pelas locações. O cinema tem esse papel de promover um lugar. Nova Iorque que o diga. Ela não seria o que é sem a magia do cinema, que encanta e imortaliza cenários.
Cena Cultural: Você sempre procurou valorizar suas raízes cearenses. Houve alguma repulsa por parte da indústria estrangeira em trazer uma trama para o
interior o do Ceará?
Halder Gomes: Vejo o Ceará como um celeiro de temas e boas histórias para o cinema. Meu papel de realizador, que tenta contribuir para o crescimento da indústria cinematográfica no estado, é atrair produções pra cá. Existe uma competição muito forte entre países para atrair este capital tangível e seus desdobramentos em forma de divulgação de um local e fomento da economia. Claro, ninguém quer perder, e o “Área Q” foi um conquista. Mas, na maioria das vezes, perdemos, pois não temos políticas públicas que fortaleçam o papel dos produtores diante desta competição. Acho que esta vitória serve de reflexão para nós, do quanto deixamos passar projetos que poderiam aportar no Ceará.
Cena Cultural: Como aconteceu a seleção de elenco, até a escolha de nomes conhecidos como Isaiah Washington, Murilo Rosa e Tânia Khalil?
Halder Gomes: Quando fizemos a sinopse do filme, o Gerson Sanginitto (diretor) pensou no Isaiah Washington. O Isaiah, além de grande ator, já protagonizou filmes de Clint Eastwood, Spike Lee, dentre outros grandes diretores. Isso atesta a qualidade que o Gerson queria para contar uma história muito sutil. O Murilo veio em seguida, num encontro no Los Angeles Film Festival, no qual ele estava com um filme na competitiva. O Gerson falou do projeto e ele ficou muito interessado. Como ele havia terminado uma novela com a Tania Khalill, ele a sugeriu para o elenco. Outro personagem impagável no filme é o de um guia cearense, Elisovaldo, interpretado pelo carioca Ricardo Conti. O elenco local foi selecionado em audições e revelou grandes talentos, como Sol Moufer, que fez sua estreia no cinema.
Cena Cultural: O diretor Gerson Sanginitto é um velho companheiro seu, com quem já trabalhou em vários outros projetos. Fale mais sobre essa parceria.
Halder Gomes: É uma longa parceria que data de quando fiz o Sunland Heat (2000). Ele e a Carina Sanginitto (diretora de fotografia do “Área Q”), cursavam a faculdade de cinema e eu lutava pra fazer o primeiro filme. Falávamos muito de futuros projetos… e parece que o futuro chegou, né?! Juntos fizemos o “The Morgue”, “Área Q”, “As Mães de Chico Xavier”, “Beyond the Ring”. Em cada projeto nos revezávamos nas funções, de acordo com cada demanda.
Cena Cultural: Para quem conhece seus trabalhos, é notório que você sempre leva suas paixões para os filmes. É o caso das artes marciais em “Sunland Heat”, as raízes interioranas em “Cine Holiúdy”, o amor pelo Fortaleza Esporte Clube em “Loucos de Futebol”. Em “Área Q”, qual foi sua contribuição mais pessoal?
Halder Gomes: Acredito que cada um tem um pouco desta paixão dinâmica que vivo. Talvez o “Cine Holiúdy” junte mais destes elementos pessoais. Mas tenho um projeto novo que vai falar de algo que tenho paixão e devoção, mas ainda não foi pras telas: a pintura. É algo que me fascina, mas até o momento aparece nos filmes apenas como referências nas composições das cenas e fotografia. No caso do “Vermelho Monet”, a pintura clássica será a protagonista da trama.
Cena Cultural: O longa “As Mães de Chico Xavier”, o qual dirigiu ao lado de Glauber Filho, foi um dos maiores sucessos nacionais do ano de 2011. Você acredita que os filmes de raízes espiritualistas são uma “tendência do momento” ou têm atraído o público pelo conteúdo diferenciado?
Halder Gomes: Existe algo que a Estação Luz Filmes fez e que considero inédito no cinema nacional: a formação de plateia. Hoje existe um público específico que sempre aguarda o próximo lançamento da produtora. Os filmes espiritualistas se apresentam como um contraponto aos filmes com temáticas violentas, etc. Acredito que terá picos de audiência e momentos de baixa, mas o nicho existe e veio pra ficar.
Cena Cultural: Sabemos que seu projeto que está na “ponta da agulha” é o longa metragem de “Cine Holliúdy – O Astista Contra o Cabra do Mal”. Fale sobre o projeto.
Halder Gomes: É um projeto que tenho muito carinho e que se realizou. O roteiro foi 1º lugar no Edital do Ministério da Cultura e, com o prêmio, pude filmá-lo. Está 95% pronto e em negociações com distribuidores. O filme resgata a nostalgia das exibições de cinema no interior do Ceará, na década de 70, quando a TV chegava pra colocar o cinema em xeque. Acho que poderia descrevê-lo melhor, sem ser pretensioso, como um “Cinema Paradiso” com nosso senso de humor, único, do cearense.
Cena Cultural: Como bom faixa preta em Taekwondo e “estagiário de luxo” em filmes de ação estrelados por grandes estrelas do ramo, não sente saudades em retomar algum projeto voltado para o estilo?
Halder Gomes: Sim, a ação sempre vem na minha cabeça e no Cine Holliúdy pude brincar um pouco com isso, mesmo que de forma humorada. Tenho um projeto (ainda distante) de um filme que une drama e ação, sobre tráfico de mulheres do Ceará para a Espanha. No roteiro tem muita ação.
Cena Cultural: Como vê o Ceará no cenário do cinema nacional? Há boas expectativas de expansão?
Halder Gomes: Vimemos um momento bom que poderia ser muito melhor se nossos governos e empresários compreendessem a força que o cinema tem. Veja o “Área Q”, por exemplo. Está em todas as mídias do país. Todas! O nome das cidades de Quixadá e Quixeramobim estão subliminares no título do filme, com o “Q” de alusão a tais cidades e citadas em todas as matérias. E o cinema não é efêmero, ao contrário de um comercial, que tem prazo de veiculação. Qual o valor disso? Não tem preço, mas custa pouco para um Estado ou país.
Recentemente criamos a Câmara Setorial do Audiovisual do Estado do Ceará, para ter mais poder de negociações com o governo para incrementação do setor. Quanto a qualidade do que produzimos, esta já foi testada e aprovada em festivais no Brasil e exterior, nas salas de cinemas do país e nas TVs abertas e fechadas. Estamos produzindo muito, todas as gerações criando conteúdos de qualidade em diversos gêneros. Vejo um berço de uma indústria surgindo, mas que precisa de compreensão da sua importância por parte do Estado e do seu empresariado.
Trazemos milhões por ano para nossa economia através de editais e leis de incentivos federais, além de investimentos privados. Mais contrapartidas a estes recursos seriam um grande passo. Paulínea faz isso e virou um grande polo sem ter nenhum atrativo de locações. Em resumo, ainda estamos longe de se aproximar do nosso potencial.





Postada:Gomes Silveira
Fonte:Jangadeiro

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